terça-feira, 7 de setembro de 2010

O vento que se foi

O sol no céu de azul límpido,
as árvores dançando a mais bela música que há,
os rios compondo a melodia suave.
Minha tez pálida resplandece a luz solar,
lábios vermelhos acariciam a bela maçã,
como algo tão inofensivo, pode ser símbolo de pecado?

Os grandes largos verdes me trazem a memória
histórias banais, que de mim fazem parte
Andando por estes verdes tão singelos
tento refazer os passos que um dia fiz,
já não consigo mais.
As almas que me acompanhavam se foram.
Ficou somente o registro disto,
Ficaram as marcas, as pegadas na lama,
o verde também se fora.

Cabelos as vento, descalça, sentindo a força da terra fria,
respiração ofegante, como naquela noite gélida
o calor não me toma, como me tomou.
Grito o mais alto que posso,
na mesma frequência dos assovios monstruosos do vento.
As árvores me escutam,
parece que me respondem aos meus gritos,
os quais não são de socorro, mas sim num pedido de alento.

Os raios do sol envolvem-me, trazendo conforto, sem calor.
A cada segundo que se vai, fico mais clara,
palidez já não se encaixa mais em mim,
transparência já me toma conta.
Me enxergue pela última vez,
antes que eu desapareça.



Ana Carolini
5/09/2010






sábado, 4 de setembro de 2010

A menina robô

A menina robô não pensava
fazia tudo que lhe pediam, era a queridinha de todos
ela fazia regime, ia todos os dias a academia
ela não reclamava, não chorava

ela ria de piadas toscas
Não amava nada nem ninguém
e todos a amavam
Ela não sofria, nem se decepcionava
não tinha nenhum sentimento
Todos eram seus amigos
porém ela, não era amiga de ninguém

Um dia, chegou um forasteiro
a menina robô foi falar com ele, como de costume
ele não se agradou
saiu daquele lugar imediatamente
ela ficou sem entender o porquê
já que ela não pensava
Então, ela perguntou a uma pessoa que ali passava
Este lhe disse: “saia da armadura, seja o que você quer, e não o que é conveniente”
Ela o ouviu, sem compreender

A menina robô era perfeita
ela sabia disso, as pessoas gostavam também
Por que aquele forasteiro não?
Ela se aproximou do forasteiro novamente
ele a olhos nos olhos
Ninguém havia feito isso antes
Ela chorou e riu, tremeu
A menina robô virou emoção
emoção que comoveu o forasteiro
O forasteiro o abraçou
abraço de amigo verdadeiro

A menina robô se transformou
Agora, ela sentia dor e frio
amor, sofrimento e calor
ela sorria de felicidade
Ela se transformou em um ser caridoso e autêntico
ela tem sonhos e objetivos
Agora ela vive, não apenas existe
Ela tem um amigo apenas
porém, ela é amiga dele também
A menina robô não perdeu nada
Afinal, nada tinha

Os outros que queriam ela robô
Não sentiram sua falta
Sentiram falta do robô
Que o servia como reis
Que se dedicava a eles integralmente
Sentiram falta da marionete, do brinquedinho que tinham
Agora, ela vive, não apenas existe
Ela sabe que sempre terá o forasteiro para lhe ajudar
E o forasteiro sempre terá uma amiga eternamente grata
Por lhe devolver a vida, por lhe ensinar a viver verdadeiramente.



Ana Carolini
04/09/2010

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Desejo

Olhe dentro de meus olhos vermelhos E veja que o que lhe falo
É o mais puro sentimento
Que as lagrimas são o alerta que não aguento mais

Tu se foste e teu cheiro está entranhado em minha pele
Teu gosto delirante está em mim
Cabelos despenteados me escondem
Paredes acham que me dão segurança
O que preciso são de teus braços
Quentes, fortes e cheios de amor

Meu desejo te procura
Já não me reconheço mais
A carne fraca e suja já não é tão importante
A alma é muito mais sublime
Agora, te desejo com a alma
Com o amor que descobri que tenho

Venha!
Não venha secar minhas lágrimas
Nem mesmo me trazer conforto, ou somente me abraçar
Venha saciar o meu desejo
Desejo de fogo, de alma
Desejo que jamais tivera
Que não será saciado por um momento apenas
Desejo de tudo e de nada
Desejo infinito de para sempre ou nunca
Simplesmente desejo


Ana Carolini
02/09/2010


Silêncio Gritante

Preciso ficar no meu silêncio
Isolar-me de mim mesma
Rever meus conceitos
que mudam a cada dia que passa
Preciso escrever palavras toscas
as quais lerei depois e chorarei sobre elas


Proteger a alma, o amor
e quaisquer resquício de algo bom
que ainda há dentro de mim
Sou certa errada, cruel e bondosa
Busco me completar comigo mesma
Criar um ser completo
Que saiba construir e destruir
Afinal, nada deve ser eterno,
assim como não é
O infinito só existe
Por nossa vã compreensão


Preciso do meu silêncio
para me compreender
Dos meus gritos, para me ouvir
Minhas mãos para fazer
Meu espírito para sentir
Sentir algo que não compreendo,
que não ouço e que não faço
Preciso de tão pouco
Entretanto este pouco é tudo
E eu não o tenho


Ana Carolini
02/09/2010